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MÍDIA & RELIGIÃO

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postado no site Observatório da Imprensa

O discurso religioso na comunicação

Por Rogério Faria Tavares em 16/3/2010
Belo poema recitado com esperança pela humanidade ao longo dos tempos, a religião tem sido uma das formas mais empregadas pela espécie para organizar e esclarecer suas relações com os mistérios que permeiam a criação, a existência e a morte e para cultivar as dimensões mais sutis (ou transcendentes) de sua experiência na Terra, o que se costuma chamar, com grande freqüência, de espiritualidade. Importante elemento formador da visão de mundo e da cultura de praticamente todos os povos, a religião também é portadora de ensinamentos éticos e morais que moldaram civilizações, influenciaram o curso da história e definiram vários de seus avanços e retrocessos.
Capaz de mobilizar numerosos contingentes populacionais em torno de ideologias e condutas específicas, já serviu aos mais variados propósitos: foi usada como justificativa para guerras e para a celebração da paz; para a construção de palácios e a derrubada de impérios; a promoção de virtudes e de vícios; a divulgação da fraternidade e da compaixão, da intolerância e do ódio.
A religião sempre gerou alto impacto sobre as comunidades humanas e, em muitos casos, conseguiu dividi-las e reagrupá-las segundo seus mandamentos. Por muitos séculos, prevaleceu no campo da política e da administração da convivência coletiva, chegando a influenciar até, em diversas ocasiões, o modelo de trocas econômicas. Em muitas nações, notadamente no hemisfério oriental, prossegue até hoje comandando os negócios do Estado e gerindo a produção das normas jurídicas.
Amor, solidariedade e justiça 

Responsável por revelações sagradas e enunciadora da "verdade", a religião sempre foi muito eficiente para conferir sentido à vida de milhões de indivíduos. Ao longo de seu percurso como uma das mais prestigiadas dimensões da atuação humana, desenvolveu importante poder de comunicação e consolidou imenso público disposto a consumir com avidez e convicção a sua mensagem, potente o bastante para resolver impasses e dirimir dúvidas, superar o medo, trazer o consolo, aliviar a dor e afastar o absurdo e o imponderável, aceitar o passado, enfrentar o presente e acreditar no futuro.
Competente na elaboração de mitologias e hábil no uso de recursos como a linguagem simbólica, a religião dominou com desenvoltura as técnicas típicas da oralidade. Quando a tecnologia para a transmissão de idéias ainda estava em seus primórdios, a informação religiosa já estava entre as mais difundidas. Na medida em que o progresso ia engendrando outros modos de distribuição de conteúdo, a religião aprendia, rapidamente, a beneficiar-se deles. Foi o que ela soube fazer quando surgiram a escrita, o livro e a palavra impressa. E é o que ela faz até hoje, quando ocupa espaço no rádio, na televisão e nas mídias digitais.
Não há fenômeno mais previsível, portanto, que a presença do discurso religioso nos meios de comunicação de massa. A religião está na vida do povo. Como estaria ausente dos jornais, do rádio e da televisão? Essa presença não deve ser vista como negativa. Ainda que seja acusada de iludir e manipular as multidões (o que, em incontáveis episódios da história, de fato ocorreu), a religião também oferece oportunidades valiosas, e talvez inigualáveis, para refinar e elevar os padrões de conduta costumeiros da espécie humana. Ela lança um olhar fundamental sobre a realidade e propõe forma particular de representá-la e vivê-la. Sua mensagem essencial quase sempre aponta no sentido da promoção do amor, da solidariedade e da justiça, valores que ajudam o ser humano a viver melhor e mais feliz.
Respeito absoluto por outra fé 

Não há nada mais natural e compreensível que a intensa presença do discurso religioso na mídia. A religião sempre quer a ampla disseminação de seus paradigmas, conquistar adeptos, perseguir sonhos de hegemonia, estabelecer territórios e manter-se notória e vigorosa. É anseio maior de toda e qualquer religião tornar-se perene e universal, atravessando as diferentes épocas históricas e alargando suas fronteiras geográficas, conservando e atualizando a sua validade e seduzindo as novas gerações.
Essa vocação da religião para a massiva comunicação pública, entretanto, só pode realizar-se, pelo menos nos países em que vige o Estado (laico) de Direito, como é o caso do Brasil, dentro da plena observância das regras jurídicas postas pelo ordenamento pátrio para o relacionamento harmonioso entre os cidadãos.
Responsável por consagrar, em distintos incisos de seu artigo quinto, a liberdade de expressão, a liberdade de consciência e de crença e o livre exercício dos cultos religiosos, a Constituição Federal de 88 oferece as garantias necessárias para que a cidadania possa professar, se for de sua vontade, o credo que bem entender, sem submeter-se a constrangimentos ou represálias.
Em primeiro lugar, isso significa que qualquer corrente de pensamento religioso pode manifestar-se sem restrições, inclusive pelos meios de comunicação. (As sérias distorções causadas pelo acesso desigual aos recursos financeiros para investir em mídia são tema complexo, deslocado para debate posterior.) Em segundo lugar, significa que, quando ocupa os meios de comunicação, a religião deve tratar com absoluto respeito todas as pessoas e instituições que pratiquem outra fé ou divulguem visão distinta da sua.
Pluralismo e convivência pacífica 

Vale lembrar, igualmente, que os ateus ou agnósticos merecem exatamente o mesmo apreço normativo conferido pela ordem jurídica aos que crêem. Eles jamais poderão ter seus direitos e liberdades ameaçados ou tolhidos sob nenhum pretexto. Por isso, quando ocupa a mídia, a religião não pode tratá-los com desprezo, preconceito ou discriminação.
Quando ocupa a mídia, uma religião não pode formular ofensas ou ataques que maculem a reputação de outra. Também não é aceitável que trate qualquer delas como algo primitivo, excêntrico, exótico, ameaçador ou diabólico. Agredir esta ou aquela crença religiosa é atitude que merece repulsa social e repressão legal imediata. Quando isso ocorre no rádio ou na televisão é fato ainda mais grave, já que ambos são serviços de interesse público explorados sob regime de concessão.
Finalmente, não é possível, no contexto de uma democracia política como a nossa, conceder qualquer vantagem a determinada religião em detrimento das demais, uma vez que todas propiciam legítimas respostas aos anseios de fé dos cidadãos. Todas são dignas de idêntica consideração, independente da matriz cultural ou étnica a que estejam eventualmente filiadas. Não se pode instituir a menor hierarquia entre elas, nenhuma ordem de precedência ou sistema de privilégios. (Obviamente, não se pode chamar de religião o que é somente a prática do charlatanismo, o comércio dos milagres e de curas com fins de enriquecimento fácil tipificado como crime pelo artigo 283 do Código Penal Brasileiro.)
A atitude reclamada pela razão é fomentar o ecumenismo e o diálogo interreligioso, tão desejado e tão viável, haja visto o expressivo número de pontos comuns a todos os credos. O pluralismo e a convivência pacífica entre as diferenças são duas das expressões mais saudáveis de uma sociedade democrática. A sociedade brasileira não pode tolerar os intolerantes. Seria perigoso demais para o futuro com que sonhamos.

O caso Nardoni e o novo fenômeno midiático da classe C

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post retirado do site observatório da imprensa

Postado por Carlos Castilho em 27/3/2010 

 Hoje em dia não dá mais para discutir um fato, dado ou fenômeno sem levar em conta o papel da mídia. 
Todo mundo sabe disto, mas a grande dificuldade é identificar onde a mídia interferiu e onde ela não tem uma função decisiva.

A condenação do casal Nardoni é um bom exemplo disto. O julgamento dos acusados foi um espetáculo midiático onde os grandes protagonistas não foram os jornalistas mas o público que ficou do lado de fora e os participantes do juri. Enquanto na fase das investigações, logo após o crime, a imprensa foi determinante na definição de ênfases, no julgamento ela se limitou a armar o palco.

O jogo de cena dos advogados, testemunhas e parentes era natural e faz parte do script. O que surpreendeu foi a reação do público, que acompanhou o julgamento como se estivesse participando de um BBB ou de uma novela. Este envolvimento da platéia é que precisa ser discutido e estudado porque pode embutir algumas surpresas para quem procura fazer uma leitura crítica do que a mídia apresenta.

Observando pela televisão, a maioria das pessoas que se aglomerou em frente ao Fórum de Santana, em São Paulo, para acompanhar o julgamento era formada por pessoas da classe C, muitos dos quais jovens e com predominância de mulheres. A classe C é o grande fenômeno social contemporâneo graças à sua crescente visibilidade por conta do aumento do seu poder de compra.

A classe C é o grande filão de público para a TV aberta porque a população com maior renda já migrou para a TV a cabo ou para a internet. Foi a classe C que esteve na origem do fenômeno midiático dos Nardoni. É bom lembrar que tudo começou quando, há dois anos, a TV Record apostou na cobertura do crime e conseguiu uma empatia imediata da classe C.

Ao perceber o sucesso da concorrente, a Globo entrou pesado no jogo não por interesse jornalístico ou informativo, mas por razões basicamente comerciais. A estratégia era não deixar a audiência da Record disparar porque isto significava perda de pontos no IBOPE e queda do valor do minuto comercial. A Globo não estava tão preocupada com a perda de pontos, mas com o custo da recuperação dos telespectadores perdidos para a concorrente. O custo, segundo os especialistas, é oito vezes maior do que o prejuízo líquido da perda de um ponto.

A partir daí o caso Nardoni se tornou uma estratégia comercial e as regras do jogo da cobertura passaram a ser determinadas por esta opção. Mas o público ficou confuso e não teve a chance identificar o que era da natureza do caso e o que era interesse comercial da mídia, disfarçado de jornalismo.

A lógica de mídia é facilmente identificável, mas o mesmo já não acontece com a identificação das causas que levaram a classe C a se interessar pelo caso. É muito importante estudar este fenômeno porque ele pode estar associado a determinados comportamentos políticos deste segmento social, que tem a tendência a posições radicais, para compensar sua dificuldade em entender situações complexas. Ela não entende porque não lhe dão informações.

A palavra chave na mobilização popular em torno do julgamento foi impunidade. As pessoas não queriam que o casal saísse impune. As razões para este comportamento são várias e seria muito interessante conhecê-las em detalhes para poder entender melhor o perfil comportamental deste segmento social cuja presença midiática é cada vez maior.

O processo de diferenciação de interesses e contextos num caso como o dos Nardoni é complexo porque a mídia é a responsável por 95% das informações recebidas pelas pessoas.  Assim, a mídia escolhe os crimes que vai cobrir e com isto a população é induzida a participar segundo regras e cenários que ela não escolheu, e que na maioria das vezes ela nem consegue distinguir.

A tendência da classe C para posições extremas é muito perigosa em termos políticos porque pode ser facilmente manipulada pela mídia, pelos argumentos citados acima e que são apenas uma tímida tentativa de entender o que está se passando, além das câmeras e microfones.

Café Filosófico - Especial Nietzsche - Por Viviane Mosé

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O filósofo alemão Nietzsche viveu de 1844 a 1900. Mesmo assim foi capaz de antecipar algumas questões que marcaram a vida e o pensamento dos séculos XX e XXI. Hoje, Nietzsche ainda desperta um grande interesse, tanto no meio acadêmico como fora dele. Mas por que as idéias deste filósofo continuam tão atuais? Para responder esta questão, a filósofa Viviane Mose apresenta alguns dos principais temas da filosofia de Nietzsche e nos mostram os aspectos da vida e da obra deste filósofo que são fundamentais para entendermos o fascínio que ele exerce na atualidade

Prometeus - A Revolução da Mídia

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Futebol dos Filósofos

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O sentido da vida se arranca das pedras e não dos céus ou das teorias.

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por Luiz Felipe Pondé, para a Folha

Seria a vida frágil? Uma aluna me respondeu esta pergunta assim: "A vida burguesa é frágil". Esse é um erro de quem pensa que a miséria humana foi inventada pelo capitalismo. Culpa de professores, sociólogos e filósofos. O capitalismo é apenas uma face da fragilidade. Mas pensar que a vida seja frágil apenas quando é burguesa é também uma forma, ainda que chique, de se enganar.
Pensar que a vida melhorou na modernidade me parece também um engano. Como me lembrou um aluno recentemente: "As soluções modernas para a vida são como remendos em feridas incuráveis" (mais ou menos isso), diria o filósofo romeno radicado na França Émil Cioran (século 20).
Mas como é boa a vida das pessoas simples! Não me refiro necessariamente aos pobres, para quem café da manhã, almoço e janta resumem a esperança e o ideal do dia a dia (e nem é apenas assim, porque figuras como Jesus e espíritos afins os ajudam no dia a dia). A vida deles não me parece fácil nem um pouco.
Refiro-me a quem lança mão de artifícios (valores da moda, teorias políticas, marketing de comportamento, concepções prontas de mundo e similares) para enfrentar a falta de sentido das coisas. O sentido da vida se arranca das pedras e não dos céus ou das teorias. Os lábios dos que buscam sentido estão secos como os de quem vaga por um deserto. Quer um exemplo de pessoa simples? Qualquer um que se defina diante da vida como "conservador" ou "progressista" (estereótipos).
amor-sem-escala Aliás, quem se define assim, me parece, o faz por marketing pessoal, ignorância ou simples má fé. Normalmente o "progressista" se vende melhor entre pessoas "chiquinhas-cultas" e solitárias, mas o "conservador" se vende bem em igrejas, associações de raivosos e afins. O filme "Amor sem Escalas", com George Clooney, é um bom teste para ver se somos simples. Seria um filme "conservador" ou "progressista"?
Condenaria ele a vida pós-moderna e seu hino ao individualismo "hard" (porque, ao final, defenderia a vida familiar e o casamento) ou, ao contrário, defenderia ele mulheres que só pensam na carreira e que fazem de seus maridos que ganham menos do que elas coitados traídos (porque elas estariam colhendo os merecidos frutos "benignos" da emancipação feminina contra séculos de opressão)?
O roteiro é quase didático (digo como qualidade positiva) ao expor a insignificância desta oposição "conservador x progressista" quando se trata de narrar o estrago moderno sem qualquer possibilidade de cura ou retorno.
Há um desfile de temas típicos do debate contemporâneo: família, amor, valores morais, falta de vínculos, conflito de gerações, seres humanos como mercadoria no capitalismo selvagem e impacto das mídias high-tech. Clooney é um típico pós-moderno feliz: "I like to travel light" ("gosto de viajar leve", credo pós-moderno, "viajar" aqui significa "viver"). Isto é: sem vínculos.
Seu personagem, além de viajar pelo país demitindo gente (o que, no filme, marca a condição miserável da vida sob o regime capitalista), faz conferências motivacionais para ajudar as pessoas a viverem com poucos vínculos e descobrirem que essa vida "light" é a melhor.
Uma mulher (como sempre, quando se trata de homens que gostam de mulheres) será o principal agente de sua queda. Ela porá o modo de vida de nosso pós-moderno bem-sucedido sob xeque-mate, juntamente com pequenos dramas familiares e mudanças no seu cotidiano de trabalho que lembram a ele sua própria efemeridade. Ela o derrotará quando ele se apaixonar e buscar vínculos. O filme destrói sua tese do pós-moderno "light" e feliz.
Mas calma aí! Tampouco o filme narra a redenção do pós-moderno egoísta pelas mãos de suas irmãs ou pela "bela" vivência do amor. Ao contrário, o papel do amor aqui é de destruir a bela vida pós-moderna, sem deixar nada no lugar.
Antes do amor, ele se deliciava em ser livre e sem vínculos, depois, ele vagará pelos aeroportos e hotéis como alguém que sabe que o amor faz mal: os casais podem sim ser infiéis e as famílias neuróticas, ridículas e solúveis em água. Ele já sabia disso, apenas teve a prova na carne. Mas não terá sido em vão: pequenos gestos de generosidade marcarão seu amadurecimento.
Enfim, a consciência tirou de nosso herói a leveza que toda forma de ignorância carrega, mas não trouxe felicidade, como sempre. É um filme de gente grande.

Novos sofrimentos físicos e mentais

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Numa época em que a vida social parece tão voltada para a conquista da felicidade, como é possível que o aumento das depressões tenha adquirido características de uma epidemia? Numa cultura que cultua o corpo e o cerca de tantos cuidados, como se pode entender a disseminação de doenças como a fibromialgia, a síndrome da fadiga crônica, e a síndrome do cólon irritável, que não só desmentem o corpo como fonte de fruição prazerosa da vida, como desafiam a decifração técnica da medicina?

download da palestra

parte 1
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parte 2