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MÍDIA & RELIGIÃO

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postado no site Observatório da Imprensa

O discurso religioso na comunicação

Por Rogério Faria Tavares em 16/3/2010
Belo poema recitado com esperança pela humanidade ao longo dos tempos, a religião tem sido uma das formas mais empregadas pela espécie para organizar e esclarecer suas relações com os mistérios que permeiam a criação, a existência e a morte e para cultivar as dimensões mais sutis (ou transcendentes) de sua experiência na Terra, o que se costuma chamar, com grande freqüência, de espiritualidade. Importante elemento formador da visão de mundo e da cultura de praticamente todos os povos, a religião também é portadora de ensinamentos éticos e morais que moldaram civilizações, influenciaram o curso da história e definiram vários de seus avanços e retrocessos.
Capaz de mobilizar numerosos contingentes populacionais em torno de ideologias e condutas específicas, já serviu aos mais variados propósitos: foi usada como justificativa para guerras e para a celebração da paz; para a construção de palácios e a derrubada de impérios; a promoção de virtudes e de vícios; a divulgação da fraternidade e da compaixão, da intolerância e do ódio.
A religião sempre gerou alto impacto sobre as comunidades humanas e, em muitos casos, conseguiu dividi-las e reagrupá-las segundo seus mandamentos. Por muitos séculos, prevaleceu no campo da política e da administração da convivência coletiva, chegando a influenciar até, em diversas ocasiões, o modelo de trocas econômicas. Em muitas nações, notadamente no hemisfério oriental, prossegue até hoje comandando os negócios do Estado e gerindo a produção das normas jurídicas.
Amor, solidariedade e justiça 

Responsável por revelações sagradas e enunciadora da "verdade", a religião sempre foi muito eficiente para conferir sentido à vida de milhões de indivíduos. Ao longo de seu percurso como uma das mais prestigiadas dimensões da atuação humana, desenvolveu importante poder de comunicação e consolidou imenso público disposto a consumir com avidez e convicção a sua mensagem, potente o bastante para resolver impasses e dirimir dúvidas, superar o medo, trazer o consolo, aliviar a dor e afastar o absurdo e o imponderável, aceitar o passado, enfrentar o presente e acreditar no futuro.
Competente na elaboração de mitologias e hábil no uso de recursos como a linguagem simbólica, a religião dominou com desenvoltura as técnicas típicas da oralidade. Quando a tecnologia para a transmissão de idéias ainda estava em seus primórdios, a informação religiosa já estava entre as mais difundidas. Na medida em que o progresso ia engendrando outros modos de distribuição de conteúdo, a religião aprendia, rapidamente, a beneficiar-se deles. Foi o que ela soube fazer quando surgiram a escrita, o livro e a palavra impressa. E é o que ela faz até hoje, quando ocupa espaço no rádio, na televisão e nas mídias digitais.
Não há fenômeno mais previsível, portanto, que a presença do discurso religioso nos meios de comunicação de massa. A religião está na vida do povo. Como estaria ausente dos jornais, do rádio e da televisão? Essa presença não deve ser vista como negativa. Ainda que seja acusada de iludir e manipular as multidões (o que, em incontáveis episódios da história, de fato ocorreu), a religião também oferece oportunidades valiosas, e talvez inigualáveis, para refinar e elevar os padrões de conduta costumeiros da espécie humana. Ela lança um olhar fundamental sobre a realidade e propõe forma particular de representá-la e vivê-la. Sua mensagem essencial quase sempre aponta no sentido da promoção do amor, da solidariedade e da justiça, valores que ajudam o ser humano a viver melhor e mais feliz.
Respeito absoluto por outra fé 

Não há nada mais natural e compreensível que a intensa presença do discurso religioso na mídia. A religião sempre quer a ampla disseminação de seus paradigmas, conquistar adeptos, perseguir sonhos de hegemonia, estabelecer territórios e manter-se notória e vigorosa. É anseio maior de toda e qualquer religião tornar-se perene e universal, atravessando as diferentes épocas históricas e alargando suas fronteiras geográficas, conservando e atualizando a sua validade e seduzindo as novas gerações.
Essa vocação da religião para a massiva comunicação pública, entretanto, só pode realizar-se, pelo menos nos países em que vige o Estado (laico) de Direito, como é o caso do Brasil, dentro da plena observância das regras jurídicas postas pelo ordenamento pátrio para o relacionamento harmonioso entre os cidadãos.
Responsável por consagrar, em distintos incisos de seu artigo quinto, a liberdade de expressão, a liberdade de consciência e de crença e o livre exercício dos cultos religiosos, a Constituição Federal de 88 oferece as garantias necessárias para que a cidadania possa professar, se for de sua vontade, o credo que bem entender, sem submeter-se a constrangimentos ou represálias.
Em primeiro lugar, isso significa que qualquer corrente de pensamento religioso pode manifestar-se sem restrições, inclusive pelos meios de comunicação. (As sérias distorções causadas pelo acesso desigual aos recursos financeiros para investir em mídia são tema complexo, deslocado para debate posterior.) Em segundo lugar, significa que, quando ocupa os meios de comunicação, a religião deve tratar com absoluto respeito todas as pessoas e instituições que pratiquem outra fé ou divulguem visão distinta da sua.
Pluralismo e convivência pacífica 

Vale lembrar, igualmente, que os ateus ou agnósticos merecem exatamente o mesmo apreço normativo conferido pela ordem jurídica aos que crêem. Eles jamais poderão ter seus direitos e liberdades ameaçados ou tolhidos sob nenhum pretexto. Por isso, quando ocupa a mídia, a religião não pode tratá-los com desprezo, preconceito ou discriminação.
Quando ocupa a mídia, uma religião não pode formular ofensas ou ataques que maculem a reputação de outra. Também não é aceitável que trate qualquer delas como algo primitivo, excêntrico, exótico, ameaçador ou diabólico. Agredir esta ou aquela crença religiosa é atitude que merece repulsa social e repressão legal imediata. Quando isso ocorre no rádio ou na televisão é fato ainda mais grave, já que ambos são serviços de interesse público explorados sob regime de concessão.
Finalmente, não é possível, no contexto de uma democracia política como a nossa, conceder qualquer vantagem a determinada religião em detrimento das demais, uma vez que todas propiciam legítimas respostas aos anseios de fé dos cidadãos. Todas são dignas de idêntica consideração, independente da matriz cultural ou étnica a que estejam eventualmente filiadas. Não se pode instituir a menor hierarquia entre elas, nenhuma ordem de precedência ou sistema de privilégios. (Obviamente, não se pode chamar de religião o que é somente a prática do charlatanismo, o comércio dos milagres e de curas com fins de enriquecimento fácil tipificado como crime pelo artigo 283 do Código Penal Brasileiro.)
A atitude reclamada pela razão é fomentar o ecumenismo e o diálogo interreligioso, tão desejado e tão viável, haja visto o expressivo número de pontos comuns a todos os credos. O pluralismo e a convivência pacífica entre as diferenças são duas das expressões mais saudáveis de uma sociedade democrática. A sociedade brasileira não pode tolerar os intolerantes. Seria perigoso demais para o futuro com que sonhamos.

O caso Nardoni e o novo fenômeno midiático da classe C

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post retirado do site observatório da imprensa

Postado por Carlos Castilho em 27/3/2010 

 Hoje em dia não dá mais para discutir um fato, dado ou fenômeno sem levar em conta o papel da mídia. 
Todo mundo sabe disto, mas a grande dificuldade é identificar onde a mídia interferiu e onde ela não tem uma função decisiva.

A condenação do casal Nardoni é um bom exemplo disto. O julgamento dos acusados foi um espetáculo midiático onde os grandes protagonistas não foram os jornalistas mas o público que ficou do lado de fora e os participantes do juri. Enquanto na fase das investigações, logo após o crime, a imprensa foi determinante na definição de ênfases, no julgamento ela se limitou a armar o palco.

O jogo de cena dos advogados, testemunhas e parentes era natural e faz parte do script. O que surpreendeu foi a reação do público, que acompanhou o julgamento como se estivesse participando de um BBB ou de uma novela. Este envolvimento da platéia é que precisa ser discutido e estudado porque pode embutir algumas surpresas para quem procura fazer uma leitura crítica do que a mídia apresenta.

Observando pela televisão, a maioria das pessoas que se aglomerou em frente ao Fórum de Santana, em São Paulo, para acompanhar o julgamento era formada por pessoas da classe C, muitos dos quais jovens e com predominância de mulheres. A classe C é o grande fenômeno social contemporâneo graças à sua crescente visibilidade por conta do aumento do seu poder de compra.

A classe C é o grande filão de público para a TV aberta porque a população com maior renda já migrou para a TV a cabo ou para a internet. Foi a classe C que esteve na origem do fenômeno midiático dos Nardoni. É bom lembrar que tudo começou quando, há dois anos, a TV Record apostou na cobertura do crime e conseguiu uma empatia imediata da classe C.

Ao perceber o sucesso da concorrente, a Globo entrou pesado no jogo não por interesse jornalístico ou informativo, mas por razões basicamente comerciais. A estratégia era não deixar a audiência da Record disparar porque isto significava perda de pontos no IBOPE e queda do valor do minuto comercial. A Globo não estava tão preocupada com a perda de pontos, mas com o custo da recuperação dos telespectadores perdidos para a concorrente. O custo, segundo os especialistas, é oito vezes maior do que o prejuízo líquido da perda de um ponto.

A partir daí o caso Nardoni se tornou uma estratégia comercial e as regras do jogo da cobertura passaram a ser determinadas por esta opção. Mas o público ficou confuso e não teve a chance identificar o que era da natureza do caso e o que era interesse comercial da mídia, disfarçado de jornalismo.

A lógica de mídia é facilmente identificável, mas o mesmo já não acontece com a identificação das causas que levaram a classe C a se interessar pelo caso. É muito importante estudar este fenômeno porque ele pode estar associado a determinados comportamentos políticos deste segmento social, que tem a tendência a posições radicais, para compensar sua dificuldade em entender situações complexas. Ela não entende porque não lhe dão informações.

A palavra chave na mobilização popular em torno do julgamento foi impunidade. As pessoas não queriam que o casal saísse impune. As razões para este comportamento são várias e seria muito interessante conhecê-las em detalhes para poder entender melhor o perfil comportamental deste segmento social cuja presença midiática é cada vez maior.

O processo de diferenciação de interesses e contextos num caso como o dos Nardoni é complexo porque a mídia é a responsável por 95% das informações recebidas pelas pessoas.  Assim, a mídia escolhe os crimes que vai cobrir e com isto a população é induzida a participar segundo regras e cenários que ela não escolheu, e que na maioria das vezes ela nem consegue distinguir.

A tendência da classe C para posições extremas é muito perigosa em termos políticos porque pode ser facilmente manipulada pela mídia, pelos argumentos citados acima e que são apenas uma tímida tentativa de entender o que está se passando, além das câmeras e microfones.

Café Filosófico - Especial Nietzsche - Por Viviane Mosé

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O filósofo alemão Nietzsche viveu de 1844 a 1900. Mesmo assim foi capaz de antecipar algumas questões que marcaram a vida e o pensamento dos séculos XX e XXI. Hoje, Nietzsche ainda desperta um grande interesse, tanto no meio acadêmico como fora dele. Mas por que as idéias deste filósofo continuam tão atuais? Para responder esta questão, a filósofa Viviane Mose apresenta alguns dos principais temas da filosofia de Nietzsche e nos mostram os aspectos da vida e da obra deste filósofo que são fundamentais para entendermos o fascínio que ele exerce na atualidade

Prometeus - A Revolução da Mídia

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Futebol dos Filósofos

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O sentido da vida se arranca das pedras e não dos céus ou das teorias.

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por Luiz Felipe Pondé, para a Folha

Seria a vida frágil? Uma aluna me respondeu esta pergunta assim: "A vida burguesa é frágil". Esse é um erro de quem pensa que a miséria humana foi inventada pelo capitalismo. Culpa de professores, sociólogos e filósofos. O capitalismo é apenas uma face da fragilidade. Mas pensar que a vida seja frágil apenas quando é burguesa é também uma forma, ainda que chique, de se enganar.
Pensar que a vida melhorou na modernidade me parece também um engano. Como me lembrou um aluno recentemente: "As soluções modernas para a vida são como remendos em feridas incuráveis" (mais ou menos isso), diria o filósofo romeno radicado na França Émil Cioran (século 20).
Mas como é boa a vida das pessoas simples! Não me refiro necessariamente aos pobres, para quem café da manhã, almoço e janta resumem a esperança e o ideal do dia a dia (e nem é apenas assim, porque figuras como Jesus e espíritos afins os ajudam no dia a dia). A vida deles não me parece fácil nem um pouco.
Refiro-me a quem lança mão de artifícios (valores da moda, teorias políticas, marketing de comportamento, concepções prontas de mundo e similares) para enfrentar a falta de sentido das coisas. O sentido da vida se arranca das pedras e não dos céus ou das teorias. Os lábios dos que buscam sentido estão secos como os de quem vaga por um deserto. Quer um exemplo de pessoa simples? Qualquer um que se defina diante da vida como "conservador" ou "progressista" (estereótipos).
amor-sem-escala Aliás, quem se define assim, me parece, o faz por marketing pessoal, ignorância ou simples má fé. Normalmente o "progressista" se vende melhor entre pessoas "chiquinhas-cultas" e solitárias, mas o "conservador" se vende bem em igrejas, associações de raivosos e afins. O filme "Amor sem Escalas", com George Clooney, é um bom teste para ver se somos simples. Seria um filme "conservador" ou "progressista"?
Condenaria ele a vida pós-moderna e seu hino ao individualismo "hard" (porque, ao final, defenderia a vida familiar e o casamento) ou, ao contrário, defenderia ele mulheres que só pensam na carreira e que fazem de seus maridos que ganham menos do que elas coitados traídos (porque elas estariam colhendo os merecidos frutos "benignos" da emancipação feminina contra séculos de opressão)?
O roteiro é quase didático (digo como qualidade positiva) ao expor a insignificância desta oposição "conservador x progressista" quando se trata de narrar o estrago moderno sem qualquer possibilidade de cura ou retorno.
Há um desfile de temas típicos do debate contemporâneo: família, amor, valores morais, falta de vínculos, conflito de gerações, seres humanos como mercadoria no capitalismo selvagem e impacto das mídias high-tech. Clooney é um típico pós-moderno feliz: "I like to travel light" ("gosto de viajar leve", credo pós-moderno, "viajar" aqui significa "viver"). Isto é: sem vínculos.
Seu personagem, além de viajar pelo país demitindo gente (o que, no filme, marca a condição miserável da vida sob o regime capitalista), faz conferências motivacionais para ajudar as pessoas a viverem com poucos vínculos e descobrirem que essa vida "light" é a melhor.
Uma mulher (como sempre, quando se trata de homens que gostam de mulheres) será o principal agente de sua queda. Ela porá o modo de vida de nosso pós-moderno bem-sucedido sob xeque-mate, juntamente com pequenos dramas familiares e mudanças no seu cotidiano de trabalho que lembram a ele sua própria efemeridade. Ela o derrotará quando ele se apaixonar e buscar vínculos. O filme destrói sua tese do pós-moderno "light" e feliz.
Mas calma aí! Tampouco o filme narra a redenção do pós-moderno egoísta pelas mãos de suas irmãs ou pela "bela" vivência do amor. Ao contrário, o papel do amor aqui é de destruir a bela vida pós-moderna, sem deixar nada no lugar.
Antes do amor, ele se deliciava em ser livre e sem vínculos, depois, ele vagará pelos aeroportos e hotéis como alguém que sabe que o amor faz mal: os casais podem sim ser infiéis e as famílias neuróticas, ridículas e solúveis em água. Ele já sabia disso, apenas teve a prova na carne. Mas não terá sido em vão: pequenos gestos de generosidade marcarão seu amadurecimento.
Enfim, a consciência tirou de nosso herói a leveza que toda forma de ignorância carrega, mas não trouxe felicidade, como sempre. É um filme de gente grande.

Novos sofrimentos físicos e mentais

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Numa época em que a vida social parece tão voltada para a conquista da felicidade, como é possível que o aumento das depressões tenha adquirido características de uma epidemia? Numa cultura que cultua o corpo e o cerca de tantos cuidados, como se pode entender a disseminação de doenças como a fibromialgia, a síndrome da fadiga crônica, e a síndrome do cólon irritável, que não só desmentem o corpo como fonte de fruição prazerosa da vida, como desafiam a decifração técnica da medicina?

download da palestra

parte 1
http://rapidshare.com/files/331064349/CFnovsoffisment.part1.rar

parte 2






Obras Psicológias Completas de Sigmund Freud

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 Volume I: Publicações pré-psicanalíticas e esboços inéditos. (1886-1889).
http://www.4shared.com/file/174536475/3730e772/FREUD_Sigmund_Publicaes_Pr-Psi.html
  
Volume II: Estudos sobre Histéria (1993-1895).
http://www.4shared.com/file/174536799/a243388e/FREUD_Sigmund_2_Estudos_sobre_.html

 Volume III: Primeiras publicações psicanalíticas (1893-1899).
http://www.4shared.com/file/174537758/c14d2071/FREUD_Sigmund_3_Primeiras_Publ.html

 Volume IV: A interpretação dos Sonhos (I) (1900).
http://www.4shared.com/file/174538515/80775df0/vol_4.html

 Volume V: A interpretação dos Sonhos (II) e Sobre os Sonhos (1900-1901).
http://www.4shared.com/file/174538772/4bcdbbbb/FREUD_Sigmund_5_A_interpretao_.html

Volume VI: Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (1901)
http://www.4shared.com/file/174542102/dd9c6dba/FREUD_Sigmund_6_Sobre_a_psicop.htm

Volume VII: Um caso de Histéria, Três ensaios sobre a sexualidade e outros trabalhos (1901-1905)
http://www.4shared.com/file/174545226/77564dc1/FREUD_Sigmund_7_Um_caso_de_His.html




Documentário - Da servidão da Modernidade

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O Desejo

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O programa enfoca uma questão fundamental em nossa natureza, que ocupa os que estudaram a psique, a partir de Freud, passando por Jacques Lacan e Maud Mannoni: “O que é o desejo?”. Capellato trata o ser humano como um ser de anseios, pois é da nossa natureza buscar sempre um objeto que preencha uma ausência primordial. Mas quando este objeto é conquistado, o desejo perde o significado. E, assim, seguimos como o rei Sísifo na mitologia, condenado a empurrar uma pedra para o alto de uma montanha, para vê-la descer tão logo chegue lá e, então, começar a tarefa mais uma vez. O programa Café Filosófico é uma produção da TV Cultura em parceria com a CPFL Energia.

Freud, Morte, Vida

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O que podem os afetos/CPFL Cultura

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http://cpflcultura.com.br/video/integra-que-podem-afetos-viviane-mose-e-nelson-lucero

Neste Café Filosófico, o terapeuta corporal Nelson Lucero fala sobre os afetos e as suas formas de expressão. A filósofa Viviane Mosé, curadora desta série Deslimites, também participa do debate sobre o poder dos afetos.

Buscamos o tempo todo entender e expressar os nossos afetos e, para Nelson Lucero, são eles que nos movem para a vida; mas os afetos podem também nos paralisar, quando não sabemos como explicá-los, quando não conseguimos comunicá-los. 

Como viver a intensidade dos afetos? Essa é a pergunta que Nelson Lucero e Viviane Mosé respondem neste Café Filosófico

Ótimo blog de FILOSOFIA

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http://cafesfilosoficos.wordpress.com/

IDADE MÍDIA

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artigo extrado do site Observatório da Imprensa
O encontro improvável

Por Washington Araújo em 20/2/2010
Reproduzido da Agência Carta Maior, 19/2/2010; título original "O improvável encontro da esperança com a realidade"

A cultura do Big Mac – aquele sanduíche carro-chefe da franquia Mcdonalds – começa a produzir seus frutos mais nefastos e perniciosos para esta e as próximas gerações. É a cultura do transitório e do efêmero onde nada dura nem perdura, nada progride, mantém-se e só. O marketing coloca o supérfluo sob lente de aumento e a felicidade é poder estar dentro da moda, moda-vagalume com cada vez menos tempo de vida, sendo sempre substituída por outro artificialismo como a enraizar no espaço entre as nuvens suas raízes. É claro que temos um estilo de vida moderna cada vez mais insustentável, nem moral nem material, apenas estilo de vida descartável onde colocamos em sua voraz fornalha o que temos de mais precioso em nossa vida – o tempo.

Cansado de fazer viagens em fim de semana para dar palestra, participar de algum evento universitário, viagem dessas que começam na noite de sexta-feira e acabam logo após o meio-dia do domingo, terminei sucumbindo à idéia de comprar aquela maquininha criada pela Amazon.com e que atende pelo nome Kindle. É que sempre viajo com 2/3 da bagagem constituída por livros que me oferecem a possibilidade de acompanhá-los em minha viagem. A maquininha cumpre parte do que alardeia: armazena mais que 1.500 livros digitalizados e sua bateria dura exatas duas semanas. Mas não cumpre exatamente aquilo que mais apregoa: lê-se como um livro.

Com sua cara de jornal molhado, as páginas, com as letras serifadas pretas sobre fundo cinza, nem de longe lembra o livro. Num primeiro momento atende como depósito de quinze centenas de livros logo aqui ao alcance das mãos. Num segundo momento é a própria estranheza ao toque humano tão longamente acostumado ao papel celulose e flexível. Olho o Kindle como embalagem de plástico e o livro como presença afetiva. Por mais que avance na leitura do texto meus olhos não mensuram de imediato o texto percorrido. O Kindle parece imutável como os moais da ilha de Páscoa. E se antes fazia breves pausas para sentir mais fundamente a emoção suscitada pelo poema ou a situação evocada na crônica de autor talentoso, deixando o livro sobre o peito, aberto até onde a leitura conseguira ir, o que fazer com o Kindle com sua forma de tabuleta que não se abre? Ah, e o cheiro de livro? Não, não é desprezível o cheiro de livro bem impresso e bem encadernado, o olfato festeja a obra assim como os olhos festejam as palavras.

Ótica do predador

Se antes imaginava o futuro do livro como aquele objeto que tornaria possível lê-lo em pleno banho, vejo que nenhum leitor digital é afeito ao contato com água. Neste aspecto são gremlins onde gota d´água pode ser fatal. O quesito quantidade é bem atendido e não resta dúvida alguma. Mas o quesito qualidade como soia acontecer é nocauteado. Grande parte dos livros digitalizados, ao menos neste ano de 2010, existe apenas em língua inglesa. Em português tive que me contentar com o indispensável Machado de Assis, alguns livros de Eça de Queiróz, Fernando Pessoa e outros de Humberto de Campos. Estão digitalizados porque já são de domínio público e ninguém há que exija pagamento de direitos autorais.

Apenas por isto. Mas, para que me serve o Kindle se não posso depositar sob seus cuidados o Declínio e Queda do Império Romano de Edward Gibbon, A História da Civilização de Will Durant, Armas, Germes e Aço de Jared Diamond; Cadeira de balanço de Carlos Drummond de Andrade, A descoberta do mundo com crônicas de Clarice Lispector, O Apanhador no Campo de Centeio de Jerome David Salinger e Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez?

A segurança de ter ao alcance dos olhos e depois das mãos esses momentos mágicos em que o gênio criador irrompeu em vidas como as de Goethe e Machado, Pessoa e Heine, Schiller e Salinger, e delas fez surgir companheiros de viagem que desafiam o tempo, a memória e os modismos também. Segurança que vez por outra sucumbe ao efêmero, ao que é feito para não durar e se apresenta tão volátil quanto o capital que a financia e o trabalho que a gera. Sim, há muito deixamos de ser habitantes de catedrais da Idade Média para sermos meros transeuntes de shoppings centers feéricos, onde não sabemos discernir a passagem do tempo, quando é dia e quando é noite, e ainda assim alimentamos a ilusão de que estamos seguros, protegidos contra a realidade da vida. E quando ficamos insensíveis à passagem do tempo é que ficamos imunes à memória – e sem memória pouco ou quase nada somos enquanto realidades humanas. Tudo envelhece muito depressa porque há que se alimentar a fornalha do consumo inconseqüente.

Vivemos em uma paralisia de poder, anestesiados, precocemente envelhecidos pela idéia que o amanhã é apenas outro nome para hoje. Prisioneiros do dinheiro, viramos sujeitos de um processo de globalização que nos faz reféns do medo. A miséria foi globalizada e sabemos muito bem o que é um pobre nas palafitas de Salvador, na Baía de Todos os Santos, e outro seu semelhante nas cercanias de Nova Déli, onde pedir esmola é crime punido com detenção em regime fechado. O mundo tornou-se tão terrivelmente desigual em suas oportunidades e tão igualitário em suas formas de opressão. O dinheiro que antes circulava fisicamente hoje circula virtualmente. É, por sua natureza, apátrida e como tal não guarda relações de lealdade com os condenados da Terra. Sem vínculo algum com o trabalhador, o capital globalizado vê um desempregado potencial em cada rosto de trabalhador. E não poderia ser diferente já que tratamos aqui da ótica do predador. Primeiro avalia-se a força física, depois psicológica, depois financeira, depois midiática.

Lugar mágico

Jared Diamond argumenta que muitos dos colapsos de civilizações antigas foram os resultados de suicídios ecológicos. O autor de Colapso estabelece assim o paralelo com as sociedades atuais, onde os problemas ambientais são também uma grave ameaça. No entanto, Diamond reconhece que o colapso de uma sociedade ou civilização é quase sempre o resultado da combinação de diversos fatores. Para além da destruição do meio ambiente, ele atribui um papel às alterações climáticas, às relações comerciais com outros países, à existência ou não de povos vizinhos hostis, e, acima de tudo, à capacidade das sociedades adaptarem o seu modo de vida aos recursos naturais disponíveis.

Diamond dá-nos também exemplos de sociedades que, tendo enfrentado problemas semelhantes aos descritos acima, conseguiram, pelas escolhas que fizeram, ultrapassá-los e subsistir até hoje. A Islândia e a ilha de Tikopia mostram como é possível subsistir, mesmo em condições muito adversas, quando as sociedades fazem, em cada momento, as escolhas certas. O meio ambiente da Islândia é um dos mais frágeis do planeta, o que não impediu a sua população de ter um dos rendimentos per capita mais elevados do mundo. A ilha de Tikopia mantém uma população constante de 25 mil habitantes há mais de 2500 anos. Os seus habitantes rapidamente se aperceberam que o frágil meio ambiente da sua ilha não suportava uma população superior. Assim, para além de terem eliminado hábitos antigos, como a criação de porcos, animais que destruíam a frágil vegetação da ilha, utilizaram o aborto e mesmo o infanticídio como formas de controle da população. Uma ideia fundamental do livro de Diamond é a da necessidade de ajustarmos o nosso modo de vida, produção e hábitos de consumo aos recursos naturais que temos à nossa disposição, dependendo disso a sobrevivência das sociedades atuais.

Enquanto isso o desespero humano atinge proporções inauditas. Para alcançar o desespero humano mais completo e mais sofrido leva-se tempo. Combate-se o uso de drogas, essa válvula de escape de crescente legião de desiludidos, sem se dar conta que para a maior parte dos usuários a droga real e intransferível é a própria vida que levam, sem sentido e sem rumo como pequenos barcos de papel lançados em alto mar. E se as taxas de suicídios só fazem crescer nas antes festejadas maiores economias do planeta – como a Suíça, o Japão e os Estados Unidos – já deveriam ser vistas como tenebrosos alertas de que algo de muito podre vem sustentando o presente estágio de pré-barbárie em que vivemos, onde recursos naturais continuam sendo saqueados, inutilizados e desperdiçados em benefício de uma cruel elite de senhores feudais que aprenderam como criar a sede e o sono, mas não arriscaram soluções para criar água e descanso.

A busca desenfreada pelo cintilar fugaz dos holofotes torna defeituosas gerações de jovens que parecem abdicar em massa de sua condição humana para a condição de produtos expostos em gôndolas de mercados espalhadas ao longo da vida. A certidão de nascimento deixa de ser emitida pelos prosaicos cartórios para virem à existência no momento mesmo em que viram personagens de realities shows, de pegadinhas sórdidas, de capas de revistas e jornais. Estamos transitando do estágio de nascer para o de estrear.

Se nossos antepassados sofreram horrores inimagináveis que somente uma Idade Média poderia suscitar, nós hoje, seus descendentes, vivemos na ante-sala da Idade Mídia onde tudo se transforma em alucinantes jogos de luzes. A Idade Mídia tem seus cânones. Tudo o que não repercute não é digno da atividade humana de pensar. Tudo o que não entra na escalada de notícias de telejornais não possui existência própria nem autônoma. Tudo o que sinaliza para uma ética dos direitos humanos constitui atentado aos poderes midiáticos constituídos. O planeta inteiro começa a passar em cada vez maiores telas de tevê, lugar mágico onde as "coisas" podem ser vistas mas não podem ser "tocadas".

Data longínqua

Toda aspiração que vise elevar a qualidade da vida humana é atentado direto ao principio da liberdade individual, pois todo ser humano tem o direito à sua própria infelicidade sem interferência de qualquer poder e não importando em que faixa etária se encontre. Toda pessoa baixa é criança – e, portanto incapaz de autodeterminação – não importa se é filha de anões ou se descende longinquamente de pais historicamente baixos. Os tais valores humanos estão com sinais tão trocados que o novelista global Manoel Carlos (de Viver a Vida) vem sendo comparado com William Shakespeare (de Hamlet) e se acha muito natural que criança de tenros 8 anos possa interpretar vilã-mirim em novela das 8 da emissora campeã de audiência no Brasil, sendo execrável que alguém se atreva a dizer que o "caso" requer imputar responsabilidades a quem de direito: os pais ou responsáveis da criança, a emissora de televisão que lhe facilita o roubo da infância, as varas de família e juizados de menores que deveriam zelar por seu desenvolvimento físico, moral, social [ver, neste Observatório, "O que os olhos não veem"].

Terminamos confinados à insônia originária de diversos fatores, dentre os quais destaco a ansiedade irreprimível por comprar e a angústia de não ter como pagar. A insônia nunca foi boa para ninguém, salvo os donos de laboratórios farmacêuticos. Não à toa que os Estados Unidos consomem 53% de todos os sedativos, ansiolíticos e outros medicamentos vendidos de forma legal em todo o mundo – e quase 50% das drogas proibidas vendidas ilegalmente no mundo. O patético da história que a nação do Norte conserva em suas fronteiras geográficas não mais que 5% de toda a população mundial.

Do jeito que as coisas vão não haverá o dia em que a esperança venha se encontrar com a realidade.

O declínio de Nietzsche

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Artigo extraido do site, www,vivermentecerebro.com.br

A deterioração mental de um dos maiores filósofos dos últimos anos, provavelmente conseqüência da sífilis, pode ser detectada precocemente em algumas de suas obras.

Um dos principais filósofos do século XIX, o alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche foi vítima de um distúrbio mental, provavelmente causado pela sífilis, que arruinou seus últimos anos de vida e cuja evolução pode ser percebida em suas obras.

A evolução da doença se divide em três fases: na primeira a infecção fica restrita aos órgãos genitais; na segunda, alastra-se pelo organismo; na terceira causa paralisia progressiva e demência. Nietzsche adoeceu em 1873, mas só se afastou da atividade docente na Universidade da Basiléia em 1879 − quando sua voz era quase inaudível para os alunos. Os sintomas da demência só vieram dez anos depois, mas os primeiros sinais de deterioração intelectual já aparecem nos seus textos de 1887.

O que se observa, a partir de A gênese da moral, é a passagem de um Nietzsche que escreve com força e determinação, de forma densa e ao mesmo tempo sintética, para “outro” que parece incapaz de afrontamentos, que se perde entre notas e apontamentos publicados postumamente e cuja organização lógica até hoje é alvo de críticas. Nessa mesma época, o filósofo alemão redige quatro panfletos pouco concisos, cheios de contradições, que parecem escritos com raiva, algo que os leitores não esperavam encontrar em volumes de filosofia.

Os quatro panfletos
O primeiro, Nietzsche contra Wagner, de 1888, chega a ofender o amigo músico. Depois de se aconselhar com seu editor, o filósofo corrige o texto, publica-o novamente com um prefácio, um epílogo e ainda um post scriptum. O segundo panfleto se chamaria Alegria de um psicólogo, mas por sugestão do editor recebeu o título O crepúsculo dos ídolos: ou a filosofia a golpes de martelo. Diz o autor nesse texto: “Não existe uma realidade supra-sensível, aquela imaginada pelos idealistas, não existe um mundo racional, não há um mundo moral, ainda que os moralistas continuem insistindo. Não existe nem mesmo o mundo das aparências. Definitivamente não existe nada”.
O anticristo é o terceiro panfleto e se limita a demolir o cristianismo. Aqui também as frases são carregadas de violência, ira e ausência de reflexão e de direção. O quarto e último panfleto é Ecce homo. O que significam os títulos desses dois textos? Uma referência a Cristo? Talvez O anticristo fosse somente um nome para indicar a figura mítica de Dionísio, que Nietzsche passou a encarnar em algumas cartas a amigos.

Outra idiossincrasia diz respeito ao emprego de expressões líricas, usadas de forma superficial em alguns textos, ao mesmo tempo que outros se aprofundavam na introspecção e na auto-reflexão. Estes elementos testemunham o declínio de uma mente brilhante, declínio este que começou exatamente no dia 5 de janeiro de 1889. Nesse dia Nietzsche teve início a enviar cartas aos amigos Jacob Burckhardt e Franz Overbeck. Ao primeiro escreveu: “Eu sou Ferdinand de Lesseps, eu sou Prado, eu sou Chambige [assassinos dos quais se ocupavam a imprensa parisiense], eu fui envolvido no lençol dos mortos duas vezes neste outono”. Overbeck recebeu uma carta com o mesmo conteúdo macabro. Em uma terceira correspondência, enviada ao músico Peter Gast, ele assina como “o crucificado”. À antiga amiga Cosima Wagner (mulher do compositor Wilhelm Richard Wagner), escreve: “Arianna, eu te amo”. Assinado: “Dionísio”.

Anos depois, historiador francês Daniel Halévy refaz o caminho de Overbeck em busca do amigo perturbado: “Overbeck parte para Turim. Encontra Nietzsche num quarto mobiliado, cantando e gritando sua glória, batendo no teclado do piano (...) Mais tarde, ao sair de casa, viram um homem que guiava uma carroça batendo no próprio cavalo; indignado, o filósofo colocou-se imediatamente entre os dois, imobilizando o homem com os braços e impedindo-o de continuar a bater no animal. Os transeuntes pararam para olhar, um agente policial interveio. Queriam retirá-lo daquela situação, mas ele se jogou no chão, parecia numa crise de delírio (...) O policial decidiu algemá-lo, mas Overbeck intercedeu. Falando em nome da Universidade da Basiléia, obteve permissão para levá-lo de volta para casa”.

Nietzsche estava completamente perturbado. Misturava canções, dirigia-se às pessoas por meio de cantigas. Um médico da Basiléia, cujo filho era grande apreciador das obras do filósofo, dedicou-se ao caso com particular atenção e o transferiu para uma clínica psiquiátrica em Jena, de onde saiu em 1897 para viver com a mãe em Naumburg. Com a morte dela, mudou-se para a casa da irmã em Weimar, onde permaneceu até a morte em 1900. Desses anos sabemos muito pouco. É possível que ele tenha chegado à forma grave de demência, mas o assunto era delicado demais para ser comentado na época.

Vittorino Andreoli é presidente honorário do comitê de psicopatologia da Associação Mundial de Psiquiatria.